quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dicionário de Filmes Brasileiros


O economista Antônio Leão da Silva Neto, 52 anos, transformou seu interesse por cinema em uma missão colossal: catalogar todos os longas-metragens já produzidos no Brasil. O resultado da pesquisa originou o livro Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa-Metragem, publicado em 2002 e esgotado desde 2004. No início de julho, Leão lançou uma segunda edição, revista e atualizada. Em 1.152 páginas, o livro traz sinopses, comentários, informações e fichas técnicas completas dos 4.194 filmes produzidos no Brasil, entre 1908 e abril de 2009. Para esta segunda edição, houve o acréscimo de 800 títulos, além da ampliação de informações sobre os que já constavam na edição anterior. O lançamento teve o apoio da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), por meio do Fundo Nacional de Cultura, e parceria com o Instituto Brasileiro Arte e Cultura (Ibac).

Ainda menino, Leão colecionava fotogramas em 16 mm coletados na Boca do Lixo, região do bairro da Luz, em São Paulo, na qual centenas de filmes foram produzidos entre as décadas de 50 e 80. Leão chegou a ter 5 mil títulos de todos os países, e hoje possui 500 apenas do cinema brasileiro. Detalhes de todas essas obras eram anotados em fichas, que originaram uma série de livros sobre cinema. Além das duas edições do Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa-Metragem, Leão também lançou Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro (1998), Dicionário de Filmes Brasileiros - Curta e Média Metragem (2006), Ary Fernandes - Sua Fascinante História (Coleção Aplauso, 2006) e Miguel Borges - Um Lobisomem Sai da Sombra (Coleção Aplauso, 2008), todos fundamentais para pesquisadores ou para quem simplesmente gosta de cinema.
Na entrevista por e-mail, Leão explica seu processo de pesquisa, comenta seus próximos planos e analisa a história do cinema nacional.

Como o cinéfilo se tornou pesquisador do cinema nacional?

Me tornei pesquisador por acaso. Eu tinha necessidade de informações e elas não existiam, a Internet era um sonho impossível, então comecei a fazer um fichário de filmes e atores. Esse fichário, por sugestão dos amigos, gerou meu primeiro livro, Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro; foi assim que tudo começou.

Quais foram as fontes de pesquisa para realizar o primeiro Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem, lançado em 2002?
A base do livro foi meu fichário e os dois volumes do Araken Campos Peixoto Jr., editados em 1978; mas eram incompletos, então pesquisei muito na Cinemateca Brasileira, fiz contato com produtores, fui atrás de VHS (na época o DVD ainda engatinhava), catálogos de festivais, etc

Deve ter sido um trabalho imenso. Quanto tempo levou essa pesquisa?

Esse dicionário de 2002 levou cinco anos para ser feito. E agora mais cinco para atualizá-lo.

Li que o senhor financiou a primeira edição. As editoras não se interessaram pela obra?
Dos meus seis livros, dois foram financiados por mim. O primeiro, o de longas, foi muito bem e deu lucro. No de curtas, perdi tudo que ganhei no outro. Mas valeu a pena, não me arrependo. Para a segunda edição consegui apoio do FNC - Fundo Nacional de Cultura, através do interesse direto do secretário Silvio Da-Rin, que já conhecia o meu trabalho.

O primeiro filme citado no dicionário é de 1908. Nossa produção de longas começou aí?

Sim, nosso primeiro longa chama-se Os Estranguladores, é de 1908. Mas o cinema no Brasil começou em 1897 e essas informações estão todas no meu dicionário de curtas. Os Estranguladores é um filme de ficção, mas perdido, só sobraram poucas informações. Aliás, 97% do cinema mudo brasileiro (até 1930) está perdido.

Quais são as principais alterações dessa segunda edição? Por que o senhor decidiu fazê-la?

Em 2004 meu dicionário já estava esgotado. Devido à grande procura, resolvi começar a atualizá-lo. A principal novidade é a inclusão de produções em suporte digital.

O livro tem 4.194 sinopses. Esse é o número total de filmes produzidos no país ou o senhor acha que existiriam ainda outros filmes perdidos, dos quais não temos mais nenhuma informação?

Sim, esse é o número. Poderão faltar algumas produções recentes em digital, principalmente do norte e nordeste, as quais não têm acesso às informações. Mas eu diria que 99,9 % dos longas produzidos estão ai no dicionário.

O senhor pretende continuar atualizando o dicionário?

Existe o projeto de um portal, um IMDB brasileiro, mas ainda não tem nada concreto. No momento, vou tratar da atualização e edição do meu dicionário de atores, meu primeiro livro, num projeto para 2010.

Desse apanhado geral da nossa cinematografia, o que o senhor conclui ?

Estamos produzindo muito, talvez 100 filmes por ano, mas exibindo pouco, visto que 90 % das telas brasileiras ficam ocupadas com filmes americanos. Algo tem que ser feito, pois o público não está tendo acesso às nossas produções, exceção feita a Globo Filmes, mas é muito pouco.

Numericamente, qual o gênero de filme mais produzido no país ao longo desses 101 anos?

Seria ficção, principalmente dramas policiais existenciais.

E quais são os gêneros menos visitados pelo cinema nacional?

Ficção científica quase não existe e terror só dois cineastas fazem: o Mojica e o Ivan Cardoso. O Brasil não tem tradição nesse gênero. Inclusive podemos incluir animação nesse rol.

Como o senhor avalia a importância do dicionário de longas?

Avalio pela repercussão do primeiro, em 2002, que hoje é adotado por todos que militam no cinema, até pergunta na Fuvest já foi feita com base no dicionário. Então acho que é uma obra importante, com o perdão da modéstia. Num momento em que todos se preocupam somente com o cinema americano, quando surge algo sobre nosso cinema, torna-se novidade.

COMO ADQUIRIR Os interessados pelo livro devem entrar em contato com o Ibac no e-mail ibac@ibacbr.com.br ou pelo telefone (11) 2996-6020

Um comentário:

  1. Boa noite, Leão.
    Tenho enorme interesse em conseguir parte dos filmes produzidos a partir de 1908. Como consigo, nem que seja alguns segundos? Um abração.

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